Prezado torcedor tricolor,
Ao longo da minha carreira de mais de 35 anos no futebol, criei o hábito de escrever cartas aos torcedores. Acredito que a torcida é parte fundamental da máquina que movimenta um time e precisa ser tratada com devido respeito e informação. Venho freando meu desejo de escrever a você desde a minha chegada. Hoje, com o dever cumprido de mantermos o Fluminense na Série A e ainda com a conquista da vaga para a Copa Sul-Americana, acredito que enfim chegou o momento.
O futebol nos proporciona oportunidades de observar grandes fenômenos sociais. Ele influencia inclusive nos nossos relacionamentos, uma vez que associamos nossas alegrias e tristezas pessoais aos resultados do nosso time. Aprendemos ali o valor de derrotas, vitórias, imprevistos e imponderáveis. Trata-se de um processo de ensino espetacular na vida de um ser humano.
Durante a conquista do vice-campeonato da Libertadores, a torcida tricolor deu uma amostra de grandeza e civilidade ao aplaudir o time no final do jogo. Ali estava a morte de um sonho, mas a reflexão e o bom senso demonstraram que, apesar da perda do título, o time havia feito o inédito para e pelo clube. Houve lágrimas de velhos e jovens, pais e filhos, homens e mulheres, mas também solidariedade, camaradagem e entendimento. Houve ainda muita dor e questionamento, mas sem que a esperança fosse aniquilada. Thomas Edison disse: "Todo vencedor é um perdedor experimentado".
Nossas derrotas devem ser analisadas e criticadas, sempre, mas com bom senso e realismo. Hoje, vemos jogadores que há pouco tempo eram perseguidos saírem de campo sob aplausos. Acho um direito legítimo de cada membro da torcida gostar ou não de um jogador, mas seu papel preponderante durante o jogo deve ser sempre o mesmo - o de incentivar. Naqueles 90 minutos, o objetivo comum tem que ser a vitória. Vaias e desaprovação devem ser demonstradas sempre após as partidas e com a educação e prudência de uma torcida centenária e diferenciada como a tricolor.
Sei que essa carta pode ser mal-interpretada, assim como outras histórias que levei aos jogadores, mas não me importo e também não mudarei de atitude. Poucos aceitam que um treinador possa ver sua profissão além do universo campo-bola. Mas, como treinador de pessoas, me sinto impulsionado para falar e passar minhas experiências na intenção de que o mundo seja um lugar melhor. Se não conseguir, não terei o remorso de não ter tentado por covardia. Olharei para as futuras gerações e lamentarei, mas não me punirei por não ter tentado.
Quem conhece minha carreira, sabe que eu gosto de desafios - de "tentar". Ao aceitar dirigir o Fluminense, tive a convicção que podíamos sair do momento que o time vivia. Trouxe comigo uma comissão técnica de profissionais da melhor qualidade, com conhecimento, experiência e confiança inabalável. Encontrei no clube uma Coordenação do Futebol ativa e comprometida, uma diretoria sempre atenta, um patrocinador envolvido e apaixonado pelo Fluminense, uma equipe de apoio excelente e uma comissão técnica muito honesta. Além disso, contei com jogadores que, apesar de abalados por tudo o que enfrentaram, tinham qualidade e determinação suficientes para competir com os grandes times deste país.
Os resultados que conseguimos com os jogadores foram frutos de uma metodologia de trabalho que persegue a perfeição, assim como uma estrada sempre em construção. Não há trégua para falta de interesse, cumplicidade com a mediocridade e fraqueza de propósitos. O treino tem que ser a preparação para o jogo. O jogo tem que ser o reflexo do treino, e o treino após o jogo, a correção dos erros cometidos, formando um ciclo de desenvolvimento e aprendizado.
As diferentes partes científicas de preparação de um atleta são encaixadas no controle total de rendimento, que o levam ao rendimento máximo de momento. Todas as áreas trabalham interligadas: preparação física, fisiologia, nutrição, psicologia, fisioterapia e as partes técnica, tática, administrativa e coordenação. Afinal, para exigir o máximo é preciso proporcionar o máximo.
Torcedor tricolor, tudo que estava ao nosso alcance - e com "nosso" incluo todo o Fluminense- foi feito. Espero que nossos esforços tenham tornado o seu fim de ano um pouco mais feliz e tranqüilo. Espero também que o ano de 2009 traga muitas alegrias para a nação tricolor fazendo jus ao hino do clube: "Sou tricolor de coração, sou do clube tantas vezes campeão".
Um grande abraço e que Deus abençoe a todos nesse Natal!
René Simões
2 comentários:
Pô, faz tempo que eu não aposto tanto no trabalho de um técnico no Flu como agora. Tomara que contratemos certo e que ele continue a fazer um bom trabalho em 2009.
Tambem to contigo. Ele veio cercado de desconfiança, maso tempo nos mostrou que ele sabe trabalhar muito bem. Acredito que com um planejamento dele, partindo do zero, temos tudo para ter um ótimo 2009.
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